A facilidade de estarmos conectados em tempo real, proporcionada pela internet, forçou-nos nesta crise provocada pela pandemia do Coronavírus à busca de alternativas para darmos continuidade ao nosso cotidiano. Afinal, para a nossa sorte, a vida continua. Com ela, a necessidade de sobreviver. Sobreviver significa não apenas cuidarmos da nossa saúde e das nossas necessidades básicas, mas implica também em estarmos atuantes, nos aprimorando a cada dia, cuidando não só do nosso corpo e da nossa mente, como também das nossas relações com o mundo. Porém, como fazê-lo neste imenso contexto de crise?
Essa pergunta foi respondida imediatamente pelas instituições de ensino que entenderam o seu compromisso em continuar oferecendo o seu programa de educação e formação, usando sua ferramenta mais eficaz: a tecnologia. Ela se impõe como alternativa e nos convoca a dominar os recursos que a nós se prestam. A internet, que vinha tendo um papel mais centrado no entretenimento ou nas interações interpessoais, sobressai-se, neste momento crítico, como protagonista de uma grande transformação na educação. Desafia instituições de ensino, educadores, alunos e famílias. Desse modo, entram em cena os contextos educacionais, profissionais da educação e aulas online.
Como educadores, vimo-nos então compelidos a buscar na tecnologia os recursos disponíveis e a criar estratégias e práticas educacionais nesse ensino a distância. Os professores agregaram, a essa ferramenta, sua criatividade, sua afetividade, suas visões e sua subjetividade. O resultado é muitas vezes um trabalho autoral cuidadoso. Não raro nos surpreendemos com a capacidade desses profissionais de se adaptarem a mudanças e de se lançarem aos desafios. Tem ficado muito evidente seu desejo de compartilhar seus feitos e descobertas. E, ainda, testemunhamos sua alegria em comentar a participação dos alunos, os feedbacks que recebem, os resultados que alcançam.
Além disso, nas aulas online fez-se necessário um conjunto de regras para se jogar esse jogo. Algumas delas são acordos tácitos e outras são acordos explícitos de como se comportar nesse tipo de interação. Todas elas visam respeitar a privacidade dos participantes, os direitos e deveres de cada um, as trocas de turnos combinadas, próprias das interações verbais, e também o que se espera de cada um, participantes diretos e indiretos (escola, professores, alunos e responsáveis), para que o evento seja bem sucedido.
No início da pandemia, descrenças, expressas aqui e ali, desqualificavam a prática de ensino online. Havia quem dissesse: “a escola finge que ensina, os alunos fingem que aprendem”. E mais, “a escola e os professores não estão preparados para dar conta desse desafio”. Ou, ainda,“os professores, para dar aulas online, precisam dominar habilidades para as quais não foram treinados”.
De fato, não estávamos preparados para nada disso. Mas quem disse que a arte do professor é apenas reproduzir o que aprendeu? Não seria a sua maior arte reinventar-se, de acordo com os caminhos da sociedade e, assim, desenvolver-se constantemente, acomodando-se e desacomodando-se?
O professor, muitas vezes, “águia com complexo de galinha”, como provocou Rubem Alves, é finalmente levado ao topo da montanha para lançar-se no seu voo, descobrindo-se águia. Em tais circunstâncias, quem não se reconhecer como pássaro, e, ao invés disso, escolher sucumbir ao complexo de galinha, deve refletir profundamente sobre sua escolha. Porém, injusto seria dizer que o professor deva buscar soluções individuais. Ao contrário de ser um processo solitário, a educação é fundamentalmente agregadora e solidária, além de transformadora e provocadora. Essa é a sua ética. E ela abrange todos no sistema: alunos, educadores, família, sociedade, enfim todo o conjunto que sustenta um projeto educacional. A práxis educativa implica cooperação.
Assim, embora inicialmente relutantes quanto à eficácia das aulas online e a capacidade tanto dos professores quanto das instituições de levar a cabo essa tarefa, o que pudemos testemunhar foi uma incrível predisposição a nos reinventarmos na condução e na formulação de propostas do ensino mediado pela tecnologia. Vivemos diariamente a familiarização e o aperfeiçoamento dessa nova experiência. De um lado, educadores e instituições de ensino, até então inexperientes nessa área, trabalhando em parceria na busca de metodologias, recursos e ideias que tornam a tarefa possível. De outro, as famílias e os alunos (crianças, jovens e adultos), por vezes inseguros e reticentes, mas, pouco a pouco, aderindo ao projeto de maneira excepcional.
Trata-se de um processo de ensaio e erro, comum a qualquer experiência humana. Nele, as instituições adentram os espaços privados dos alunos, sem ameaçar seus valores pessoais. As dificuldades vão sendo superadas e se transformando em desafios e novas aprendizagens. O importante é que ninguém está parado. Há uma convocação generalizada para assimilarmos estes novos tempos com novas práticas. Entre sucessos e insucessos, segue-se aprendendo a lidar com essa realidade e a tirar as vantagens dela. O que fica muito destacado é a disposição de todos em colaborar reciprocamente.
Finalmente, é importante ressaltar que este momento retirou-nos da nossa aparente zona de conforto. Impôs-nos uma nova organização da rotina, com adoção de novas práticas. Tivemos que repensar o espaço e o tempo. Aprendemos novos jogos e novas regras. Entendemos a necessidade de usarmos a tecnologia digital, até então, prioritariamente, disponível para outros fins e também reconhecemos a importância de termos um ambiente propício para esse encontro. Uma nova ética se impõe, igualmente. Em meio a dificuldades e resistências, observamos que é preciso avaliar constantemente as escolhas, as ações e os objetivos. Mas não era assim também no encontro presencial? Não são assim todas as nossas outras práticas? Há alguma atividade social que seja apenas harmoniosa e bem sucedida? Não faz parte da nossa humanização e do processo civilizatório o enfrentamento de dilemas e a busca de soluções? O que fazermos em tempos de crise senão aprendermos a atravessá-los, uma vez que a vida se impõe? Seguimos, assim, respondendo a essa e a outras questões com coragem, empenho e desejo de avançar, reagindo às demandas do nosso tempo, em tempos de crise, com a certeza de que aprender é preciso, viver é preciso.
Convidamos você a fazer parte desse projeto que é interagir, comunicar-se, conectar-se com o mundo, tornando-se protagonista na sua cena, por meio de novas práticas, que, como dizem, vieram para ficar.
Seja bem-vinda! Seja bem-vindo!








